Saúde ocupacional e medicina do trabalho: entenda a relação

Saúde ocupacional e medicina do trabalho: entenda a relação

Os termos saúde ocupacional e medicina do trabalho são usados comumente, mas existem muitas dúvidas no que concerne às semelhanças e às diferenças dos conceitos abordados por eles. Há mais de um século, essas teorias vêm protegendo o trabalhador de doenças clássicas como as intoxicações por chumbo e asbesto e de complicações modernas como a doença osteomuscular relacionada à execução laboral (DORT, antigamente conhecida como lesão por esforço repetitivo ou LER).

Tanto a saúde ocupacional quanto a medicina do trabalho estão relacionados com a proteção da saúde do colaborador em seu ambiente laboral, mas de formas diferentes que derivam de suas origens históricas.

Continue lendo e saiba mais sobre a relação entre esses dois conceitos e sua importância para manter um ambiente seguro para os funcionários.

O que é a medicina do trabalho?

É um ramo da medicina que tem por objetivo garantir a integridade do trabalhador, seja física, psicológica ou afetiva. O médico do trabalho age de modo a proteger o colaborador contra todos os riscos químicos, físicos, biológicos e ergonômicos a que ele possa estar exposto em seu local de exercício da função ou a que é submetido devido às suas atribuições. Garante também a compatibilidade de suas aptidões a suas funções, além de contribuir para o máximo bem-estar físico e mental dele.

Dessa forma, o médico do trabalho deve avaliar os impactos que a atividade tem sobre o funcionário, tratando as condições que se apresentam, visando prevenir a evolução dessas e o surgimento de novas doenças.

Quando surgiu a medicina ocupacional?

medicina do trabalho surgiu no século XIX, na Inglaterra, com a revolução industrial, a partir da qual os trabalhadores foram submetidos a um processo intenso de produção que prejudicava seu estado de saúde e tornaria o sistema econômico inviável em pouco tempo, caso não houvesse uma intervenção médica.

Nessa época era comum jornadas acima de 12 h de trabalho diárias, com exposição direta a fatores de alto risco (calor constante, fumaça, produtos químicos, sem uso de equipamentos de proteção, entre outros). Isso era contraproducente, já que as pessoas adoeciam e faleciam rapidamente.

Por exemplo, trabalhadores das minas sofriam com doenças pulmonares severas por conta do material que chegava a essas regiões. E, por isso, o governo inglês nomeou os primeiros médicos do trabalho, em 1834.

À medida que a industrialização foi se expandindo pelo mundo, também foi se expandindo a medicina ocupacional, com o reconhecimento da atividade laboral como um fator importante no processo saúde-doença.

No Brasil a obrigatoriedade de cuidados com a saúde e segurança do trabalho chegou com a promulgação da CLT, em 1944, durante o Estado Novo. Porém, as determinações não eram muito claras. Apenas em 1978 que a legislação se torna mais clara sobre o tema, com a criação das Normas Reguladoras (NR), estabelecendo obrigações para as empresas.

O que é saúde ocupacional?

No pós-guerra, com a produção industrial elevada e o surgimento de novos processos fabris, equipamentos e produtos químicos, houve um grande aumento no número de acidentes e doenças no trabalho, tendo como consequência os elevados gastos com indenizações. A intervenção médica não era mais suficiente para garantir a saúde do trabalhador.

Daí surge o conceito de saúde ocupacional ou de higiene industrial, ampliando a atuação dos profissionais da medicina ocupacional para ações sobre o ambiente laboral, por meio de estratégias multidisciplinares e do apoio de outras áreas, como engenharias e ciências sociais.

Assim, o principal objetivo passa a ser o de intervir no ambiente, a fim de reduzir os riscos ali presentes, e não apenas de prevenir que eles aflijam o trabalhador, como na medicina do trabalho.

O que essas teorias significam na prática?

No Brasil, somente na década de 70 teve-se início a normatização da saúde do trabalhador, com a obrigatoriedade de equipes multidisciplinares nos locais de trabalho e da avaliação dos riscos ambientais.

Atualmente, toda empresa, pública ou privada, tem como obrigação dispor de uma equipe composta por um médico, um engenheiro, um enfermeiro, um auxiliar de enfermagem e um técnico de segurança, todos especializados em saúde e segurança do trabalho.

Os trabalhadores devem ser informados dos riscos do ambiente no qual são executadas as atividades laborais, serem orientados quanto à prevenção de acidentes e terem acesso aos resultados dos exames médicos que realizam.

Além disso a equipe de segurança do trabalho deve trabalhar para limitar riscos e disponibilizar gratuitamente todo o equipamento de proteção individual necessário para a execução das atividades.

Quais as atuações do profissional da medicina do trabalho?

O especialista nesse setor trabalha em uma série de atuações relacionados com a prevenção de problemas e resolução de questões de saúde na área de trabalho. Assim, é importante saber quais são as atuações desse profissional nas empresas.

  • realização de exames admissionais, de mudança de função, periódicos, retorno de trabalho e demissional;
  • redação de atestados sobre os resultados do exame, para prestar contas ao eSocial acerca da situação dos colaboradores da organização;
  • avaliação da capacidade laborativa dos funcionários;
  • implementação e realização do Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO) e o PPRA (Programa de Prevenção de Riscos Ambientais);
  • realização da análise ergonômica, segundo a Norma Regulamentadora nº 17 (NR17);
  • criar medidas preventivas para proteção da saúde dos colaboradores;
  • avaliação dos elementos que possam colocar em risco a saúde dos funcionários em suas atividades laborais, sejam riscos físicos ou mentais.

Assim, em conjunto com os profissionais especializados na área, os médicos do trabalho devem atuar nas seguintes frentes:

  • diminuição dos riscos de acidentes de trabalho;
  • geração de um ambiente com mais ergonomia;
  • diminuição dos índices de doenças ocupacionais;
  • geração de um ambiente mais estável, com melhores condições físicas e psicológicas de trabalho;
  • melhor organização da empresa por meio da elaboração de planos de riscos;
  • redução de gastos com pagamento de multas, indenizações e ações trabalhistas;
  • melhoria da qualidade de vida no ambiente de trabalho.

Assim, suas ações são norteadas pelas seguintes NRs, que estabelecem as diretrizes de proposições de ações de prevenção a saúde e segurança do trabalho:

  • NR5 (formação da CIPA);
  • NR6 (regulamentação do uso de EPIs);
  • NR7 (regulamenta o PCMSO);
  • NR9 (regulamenta o PPRA);
  • NR17 (regulamenta a análise ergonômica).

Além disso é necessário ressaltar que para atuar na área de medicina do trabalho, o profissional deve ter um certificado de residência médica que aponte sua atuação na área, sendo devidamente reconhecido pela Comissão Nacional da Residência Médica.

O que é a terapia ocupacional?

A terapia ocupacional é uma subárea da medicina do trabalho, cujo objetivo é realizar a prevenção, tratamento e reabilitação de problemas de saúde adquiridos por meio da atividade humana, especificamente no ambiente laboral. Essas alterações podem ser cognitivas, psicomotoras, afetivas ou perceptivas.

Nesse caso pode trabalhar na área o profissional registrado no Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (Crefito), com formação acadêmica na área de Fisioterapia e que esteja habilitado para essas funções.

Isso é importante, pois, o fisioterapeuta está diretamente ligado com a reabilitação dos pacientes com quem trabalha, bem como prevenindo lesões temporárias e/ou permanentes.

Quais as relações entre medicina do trabalho e terapia ocupacional?

A terapia ocupacional é um complemento às ações dos médicos de trabalho. Isso porque diante de algumas lesões ou problemas que possam surgir, é necessário realizar ações completas de reabilitação da pessoa, a fim de que ela possa se tornar produtiva novamente e ter a qualidade de vida que tinha antes de assumir a vaga.

Além disso, o terapeuta ocupacional é responsável por atividades de prevenção de doenças que possam vir a se desenvolver ao longo das atividades laborais. Por exemplo, realizar exercícios e terapias psicomotoras com os colaboradores para evitar o desenvolvimento de LER (Lesão por Esforço Repetitivo) é importante para prevenir o surgimento desse problema a longo prazo, que pode incapacitar o profissional a ponto de ser necessário aposentadoria especial precocemente.

Assim, ele deve trabalhar de forma conjunta com o médico, enfermeiro e engenheiro do trabalho, a fim de melhorar as condições dos funcionários e evitar problemas tanto a curto prazo quanto a longo prazo.

Um terapeuta ocupacional deve ter as seguintes competências:

  • utilizar métodos e ferramentas específicas para realização de diagnósticos e criação de condutas saudáveis no ambiente de trabalho;
  • deve atuar dentro dos procedimentos legais estabelecidos pela CLT, NRs e demais legislações correlatas;
  • ser capaz de obter um histórico de exposição do colaborador a fatores de risco no ambiente de trabalho;
  • ser capaz de identificar sintomas de exposição constante a situações e condições de risco no ambiente de trabalho;
  • saber tratar doenças ocupacionais, realizando a reabilitação física e mental dos pacientes;
  • saber realizar procedimentos de emergência, caso algum acidente ocorra;
  • realizar medidas de prevenção e controle de fatores de risco;
  • auxiliar na inspeção e avaliação de condições de trabalho;
  • criar atividades que auxiliem na promoção de saúde e qualidade de vida no ambiente de trabalho.

Quais os benefícios da saúde ocupacional?

A saúde ocupacional traz benefícios tanto para o empregador quanto para o empregado. O trabalhador tem acesso garantido a um serviço de saúde que visa garantir seu bem-estar físico e mental e que tende a ser mais eficiente e mais rápido do que os oferecidos em ambientes externos, com maior qualidade de atendimento.

Com isso, o funcionário fica mais motivado a trabalhar com todo o seu potencial e em um ambiente seguro, aumentando a produção e beneficiando o empregador.

Lembre-se também que, para a execução das atividades, é necessário que o colaborador esteja em sua plena capacidade. Isso envolve não só os cuidados para que o corpo esteja plenamente saudável, mas também priorizar a saúde mental e afetiva dos envolvidos.

Uma pessoa insegura com o ambiente de trabalho ou constantemente estressada dificilmente conseguirá realizar suas atividades de forma eficiente, bem como rotineiramente precisará de afastamento por não conseguir lidar com a sua situação.

Além disso, os cuidados com saúde ocupacional são responsáveis por melhorar o clima organizacional. Os funcionários se sentem mais felizes e motivados quando estão em um ambiente seguro e que dá toda a assistência e respaldo em caso de problemas, evitando que eles estejam vulneráveis nas suas rotinas de trabalho.

A presença de um médico do trabalho também garante ao empregador a escolha de uma mão de obra apta às atividades e menos provável de absenteísmo. Além disso, o a presença de um especialista oferece um respaldo legal para o empregador ao certificar a capacidade física da pessoa de realizar as funções para as quais foi contratado ou após afastamentos temporários e exames esporádicos.

Assim, a medicina do trabalho cumpre um papel fundamental para as empresas, seja zelando pela organização, sua integridade, seja garantindo que não ocorram abusos ou problemas que possam comprometer a qualidade de vida dessas pessoas, muitas vezes, de forma permanente.

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2 comentários em “Saúde ocupacional e medicina do trabalho: entenda a relação”

  1. Maria de Fátima disse:

    Estou interessada nas perguntas e resposta sobre o assunto.

    Att.

    Fátima.

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